Os agrotóxicos acabam com as abelhas
O dia 20 de maio foi transformado em Dia Mundial da Abelha pela Assembleia Geral da ONU em 2017
O dia 20 de maio foi transformado em Dia Mundial da Abelha, em 2017, pela Assembleia Geral da ONO. A data realça a dependência do mundo em relação a estes insetos e a necessidade de conservação para resolver questões de abastecimento global de alimentos e eliminação da fome nos países em desenvolvimento. Atualmente a ONU está realizado um evento virtual sob o lema "Empenhados com as Abelhas: Reconstruindo Melhor para Elas".
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) realça que a meta é incentivar a cooperação e solidariedade para combater as ameaças da pandemia à segurança alimentar e aos meios de subsistência agrícolas. Nessa ação, a regeneração ambiental e a proteção da abelha são prioritárias. A agência considera que o evento será uma ocasião para aumentar a consciência de todos de que “podem fazer a diferença para apoiar, restaurar e aprimorar o papel dos polinizadores”.
Nesta mesma quinta-feira (20), a Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul realizou uma audiência pública sobre o Projeto de Lei 260/2020, que pretende revogar a lei 7774/1882, que disciplina a utilização de agrotóxicos e todos os biocidas no estado. Aprovada em 1982, a lei só começou a vigorar em 2002 quando foram constituídos órgãos de fiscalização.
Esta lei é considera a mais adiantada no país sobre agricultura e ecologia e, de acordo com o depoimento do presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), Francisco Milanez, foi praticamente elaborada dentro da associação e apresentada e defendida pelo deputado estadual Antenor Ferrari (PMDB). A audiência pública que teve a participação de diversas entidades ambientais e até mesmo setores do governo estadual, como Fepam e Emater, terminou com a orientação para que o governador retire o projeto de lei em tramitação no Legislativo.
Polinizadores
É consenso entre técnicos e ambientalistas que sem estes insetos polinizadores - são dezenas de espécies nativas e introduzidas no Brasil -, 80% dos vegetais conhecidos não produziriam sementes ou frutos. Por isso a utilização de venenos que matam estes insetos e também outros animais pode comprometer a produção mundial de alimentos, levando até mesmo à extinção da espécie humana.
Desde o inicio do século que estudos na Alemanha e na Califórnia, Estados Unidos, constataram que as culturas de transgênicos e a utilização e agrotóxicos vêm acabando com as colmeias utilizadas na produção de mel e polinização de pomares. Conforme livro de Geraldo Hasse, foi em 2007 quando se detectou pela primeira vez nos Estados Unidos o fenômeno denominado “colony collapse disease” (CCD), ou “síndrome do colapso das colmeias”, na versão adotada no Brasil.
Embora a nomenclatura adotada pelos cientistas norte-americanos sugira causas múltiplas, a maioria dos apicultores gaúchos não duvida que a mortandade das abelhas, drástica o bastante para aniquilar toda atividade nas colmeias mais fortemente lesadas, só pode ser atribuída ao contato direto das abelhas com produtos químicos usados na pulverização de lavouras.
O que acontece, na realidade, é um desastre: muitas abelhas campeiras, que abastecem as colmeias com néctar e pólen, não voltam a seus ninhos após visitar flores em áreas mais ou menos próximas de lavouras. Como que desorientadas, elas extraviam-se no campo enquanto outras acabam morrendo amontoadas na entrada das colmeias, que sucumbem por falta de alimento ou pela ausência da mão-de-obra.
Detectada em 2007 nos EUA e na Europa, a mortandade de colmeias inteiras, denominada “síndrome do colapso das colmeias”, é associada ao uso sem controle de venenos agrícolas. A causa de tamanho desarranjo seria a absorção pelas abelhas de partículas de agrotóxicos. São apontados como mais nefastos os inseticidas à base de nicotina – os neonicotinóides, proibidos em diversos países e liberados no Brasil.
Origens
As abelhas chamadas europeias foram introduzidas no Brasil pelos imigrantes e, conforme os originais do livro “A Geografia do Mel” , ainda não publicado, de autoria do jornalista Geraldo Hasse, a apicultura profissional no RS começou com os imigrantes alemães vindos no século XIX. Na primeira parte do livro aparecem os pioneiros em Rio Pardo, depois em Taquari, onde está em ruínas a Estação Experimental de Citricultura que tinha anexa uma escola Apícola que vendia rainhas, caixas e outros acessórios.
O Aroni Sattler foi diretor dessa estação antes de se tornar professor da Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele estuda especialmente a mandaçaia, em vias de extinção, não se sabe por que. Os apicultores gaúchos atribuem aos agrotóxicos a grande mortandade de abelhas que ocorre nos últimos anos.
Em assembleia geral realizada pela Federação Apícola do Rio Grande do Sul (FARGS) no dia 9 de dezembro de 2017, na Estação Experimental da UFRGS em Eldorado do Sul, os apicultores gaúchos decidiram “conversar” com a A.B.E.L.H.A. – Associação Brasileira de Estudos de Abelhas, entidade técnico-científica que propunha um convênio de cooperação recíproca com a principal instituição sindical da apicultura. Eles desconfiam da organização por entenderem que ela é um braço da Bayer, produtora transnacional de venenos.
Em 1867, o imigrante Frederico Hanemann trouxe da Alemanha duas colmeias de Apis mellifera carnica, conhecida como abelha preta, num navio. Foi com esse material genético que ele começou, em Rio Pardo, um apiário que o tornou reconhecido como "pai da apicultura nacional" título concedido por apicultores em 1919, sete anos após sua morte. O Museu de Rio Pardo tem utensílios desenvolvidos por Hanemann.
Outro pioneiro foi Emílio Schenk, fundador da escola apicola de Taquari. Inventou um caixa (colmeia) até hoje usada por apicultores gaúchos. Segundo Hasse, foi ele que construiu o apiário modelo da Faculdade de Agronomia de Porto Alegre nos anos 10 do século XX.
O outro grande mestre apicola do RS foi Hugo Muxfeldt. Nasceu em 1904 em Nova Petrópolis e morreu em 1999 em Porto Alegre, onde manteve uma escola particular de apicultura. Manteve no Correio do Povo por mais de 30 anos uma coluna semanal sobre abelhas. Criou apiários em vários municípios de Viamão, Região Metropolitana, e São Borja, na Fronteira Oeste.
A importância da apicultura é tão grande para a produção e alimentos e para a ecologia que a fábrica de celulose de Guaíba manteve, desde 1980, um projeto de fomento em seus eucaliptais. O Walter Lídio Nunes, como penúltimo presidente, deu uma incrementada no projeto por ver nele um "selo social" capaz de amenizar as críticas à monocultura vegetal, concluiu Geraldo Hasse ao Brasil de Fato RS.
Linha do tempo sobre a apicultura no Brasil criada por Geraldo Hasse
1839 – Padre Carneiro começa a criar abelhas europeias no Rio de Janeiro
1851 – Frederico Hanemann instala apiário em Rio Pardo
1852 – Lançada nos Estados Unidos a colmeia Langstroth, a mais usada no mundo
1903 – Instala-se em Taquari o apicultor Emilio Schenk, criador da colmeia Schenk e autor do livro O Apicultor Brasileiro
1928 – Criado o curso de apicultura na estação experimental de citricultura de Taquari
1957 – Em Rio Claro, o geneticista Warwick Kerr deixa escapar as abelhas africanas, as “assassinas”
1962 – Criação da Associação Gaúcha de Apicultura (AGA) 1963 – O professor Hugo Muxfeldt, o Tio Hugo, abre Escola de Apicultura Santa Rita em Porto Alegre
1964 – Lançamento da colmeia Curtinaz
1967 – Em Florianópolis, o técnico agrícola Helmuth Wiese cria a Cidade das Abelhas
1968 – Fundação da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA)
1970 – O agrônomo Aroni Sattler começa a dar aulas de apicultura na UFRGS
1986 – Fábrica de celulose de Guaíba fomenta a apicultura em seus eucaliptais no vale do Jacuí
1995 – Migração de apicultores do vale do Taquari para o Pampa
2007 – Detectada a “síndrome do colapso das colmeias” nos EUA e Europa
2013 – Fundação da Coapampa
2014 – Criação da A.B.E.L.H.A., associação técnica ligada ao Sindicato das Indústrias de Defensivos Vegetais
2017 – Extinta a Fundação de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul
2018 – Campanha pelo selo do mel branco dos Campos de Cima da Serra F
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Edição: Marcelo Ferreira
Créditos Brasil de Fato
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