Beneficiamento das espécies do Cerrado transforma vida de centenas de famílias em MG
O beneficiamento das espécies do Cerrado tem transformado a vida de centenas de famílias no norte de Minas Gerais. Acompanhar e conferir este e outros resultados do projeto Bem Diverso foi o objetivo de missão realizada este mês, que percorreu municípios que abrigam as atividades da iniciativa.
O Bem Diverso é fruto da parceria entre Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). A execução é feita em parceria com organizações do governo e da sociedade civil.
Polpas de fruta lotavam os freezers da pequena agroindústria da comunidade Água Boa II, enquanto uma comitiva de pesquisadores estrangeiros, além de técnicos e parceiros do Projeto Bem Diverso usavam tocas higiênicas para acompanhar cada um dos processos – desde a lavagem da fruta até o empacotamento e rotulagem do produto. O beneficiamento das espécies do Cerrado tem transformado a vida de centenas de famílias na região.
Acompanhar e conferir este e outros resultados da atuação do projeto no território foi o objetivo da missão, que aconteceu no início de março e percorreu municípios
que abrigam as atividades do Bem Diverso no território do Alto Rio Pardo, ao norte de Minas Gerais.
que abrigam as atividades do Bem Diverso no território do Alto Rio Pardo, ao norte de Minas Gerais.
O Projeto Diálogos Setoriais viabilizou a troca de experiências entre pesquisadores brasileiros e europeus, promovido pela União Europeia, Ministério da Economia, Ministério das Relações Exteriores e pelo Projeto Bem Diverso (PNUD/GEF/EMBRAPA).
A primeira parada da comitiva foi o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, a Cooperativa Grande Sertão e a Área de Experimentação e Formação em Agroecologia, em Montes Claros. De acordo com coordenador da Área de Experimentação e Formação em Agroecologia, Álvaro Carrara, “os produtos da sociobiodiversidade são processados dentro de um sistema que, além de gerar renda e garantir a segurança alimentar das comunidades rurais, conserva e preserva o Cerrado e a Caatinga, recupera nascentes e áreas degradadas, forma guardiões de sementes nativas e capacita e encoraja os jovens a permanecerem e viverem dos bens da terra”.
Educação no campo
Na Escola Família Agrícola Nova Esperança (EFA), em Taiobeiras, foi a vez de comprovar o fortalecimento das tradições e técnicas rurais passadas a jovens em curso técnico inserido na grade do ensino médio. Eles aprendem tecnologias sustentáveis para empregar nas comunidades em que vivem. Para o diretor da escola, Josimar Almeida, muitos jovens vão perdendo a identidade com o campo, achando que a roça e a produção de alimentos não são importantes. “A EFA Nova Esperança nasceu contra esse movimento, porque a educação no campo é um direito”, explicou o diretor.
Na avaliação do cientista da Luke Natural Resources Institute Finland, Mikko Kurttila, o projeto é bem estruturado e está ajudando as comunidades desenvolverem suas atividades em bases sustentáveis. “Isso é excelente. O que eu aprendi com o Projeto Bem Diverso no Brasil é fazer o uso da biodiversidade priorizando a conservação, enquanto na Finlândia nós não usamos a biodiversidade, a preocupação é apenas preservar”, comentou o cientista.
Vivenciando a cultura local
Em todos os lugares onde passou, a comitiva teve a oportunidade de provar alimentos à base de espécies locais, tanto in natura – como o pequi, a cagaita, o araticum – até os já beneficiados e com valor agregado, como o café especial sombreado Cacunda de Librina, produzido em Sistemas Agro-florestais (SAFs) na comunidade Vereda Funda, em Rio Pardo de Minas, a cerveja artesanal de coquinho azedo da Grande Sertão; e ainda as polpas das inúmeras frutas do Cerrado produzidas pela Cooperativa de Agricultores Agroextrativistas de Água Boa II (COOPAAB).
O grupo acompanhou o trabalho dos coletores e restauradores do Cerrado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras (Alto Rio Pardo) que contaram, com muito orgulho, como o projeto os incentiva a recuperar o bioma e os meios de vida das comunidades locais. Segundo a jovem restauradora Fabrícia Santarém, o uso sustentável do Cerrado vem mudando a geração de renda da comunidade. “O trabalho contribui para a valorização das raízes locais e a permanência dos jovens no campo” explicou a restauradora.
A comitiva foi recebida por um grupo de seresteiros com a tradicional Folia de Reis e Catira – dança folclórica regional.
De acordo com o Conselheiro da Delegação da União Europeia no Brasil, Rui Ludovino, o Projeto Bem Diverso contribui com a manutenção da biodiversidade de forma inclusiva. “O projeto contribui para o enfrentamento da mudança global do clima e da crise ecológica. É preciso corroborar para o grande pacto verde estipulado globalmente”, complementou.
Consolidando parcerias
Para o professor de agribusiness da Hochschule Rhein-Waal University of Applied Sciences na Alemanha, Dietrich Darr, e para Wageningen University & Research da Holanda, Verina Ingram, agora é o momento de consolidar os produtos com investimento em crédito e em estratégias de marketing para que possam manter a sustentabilidade da cadeia se tornando mais atraentes, e, assim, ter acesso a crédito para alcançarem o mercado (nacional e internacional). “Estamos aqui para discutir com nossos colegas pesquisadores da Embrapa como podemos trabalhar juntos nessas questões”, explicou o professor alemão.
A pesquisadora Verina verificou que a forma com que a comunidade clama por suas terras e emprega o desenvolvimento sustentável é parecido com algumas populações que ela acompanha onde mora, em Camarões, na África. “Agora vejo a necessidade de investidores para os negócios e marketing para ajudar a manter a sustentabilidade da cadeia, desde a produção até chegar nos consumidores”, acrescentou a pesquisadora.
Para o assessor técnico do PNUD, Fernando Moretti, a estratégia do Seminário Internacional em Brasília e da Missão de Campo foi mostrar que o conhecimento acumulado tanto pelo Bem Diverso quanto pelas experiências compartilhadas pelos pesquisadores e professores europeus serviu para identificar possibilidades de colaboração e cooperação técnica entre os vários atores envolvidos. “A parceria entre os Projetos Diálogos Setoriais e Bem Diverso se mostrou bastante rica na promoção do intercâmbio de conhecimentos entre as diversas experiências nas áreas de extrativismo e conservação pelo uso sustentável, e agora trabalharemos para que esta parceria siga profícua, seja através de novos editais, pesquisas ou mesmo projetos”, afirmou o assessor técnico do PNUD.
O coordenador do Projeto Bem Diverso e pesquisador da Embrapa, Anderson Sevilha, explicou que os próximos passos estarão relacionados à formalização das parcerias institucionais com a Embrapa, o Bem Diverso, instituições e universidades envolvidas no Diálogos Setoriais. O que significa, na prática, escrever projetos para buscar recursos e dar continuidade ao trabalho em campo executado no território.
“A troca de experiências começou entre os pesquisadores, mas a ideia é que se amplie com o intercâmbio de estudantes, agricultores, extensionistas brasileiros e europeus, para que conheçam as diferentes realidades”, afirmou o coordenador. Um ponto foi marcante em todas as falas: o complemento que o projeto traz em relação à pesquisa, já que o Bem Diverso é um projeto de desenvolvimento. A nossa capacidade de trazer a pesquisa voltada para o desenvolvimento local dessas comunidades chamou a atenção dos estrangeiros”, finalizou o coordenador do Projeto Bem Diverso.
Créditos ONU, publicado originalmente em - https://nacoesunidas.org/beneficiamento-das-especies-do-cerrado-transforma-vida-de-centenas-de-familias-em-mg/
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