Créditos Globo Rural
Quais as vantagens de ter uma fazenda sustentável?
Além de uma produção mais amigável com o meio ambiente, observar as boas práticas pode trazer benefícios, inclusive, financeiros para o produtor rural
Por Luciana Franco, Isadora Camargo e Nayara Figueiredo
A adoção de práticas sustentáveis é um dos principais desafios para a agropecuária no atual momento. “Começamos com a abertura de terras, passamos pela tropicalização das cultivares, adotamos a intensificação da produção e agora o momento é de produzir com sustentabilidade”, explica Paula Packer, chefe geral da Embrapa Meio Ambiente.
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Do desenvolvimento tecnológico ao manejo da produção, existem diversas alternativas que possibilitam produzir de forma conservacionista, preservando a qualidade do solo e da água, a biodiversidade, e utilizando de forma mais eficiente os insumos.
Para o agricultor Rogério Vian, o caminho foi adotar insumos biológicos, o que começou a fazer ainda em 2005. Ele cultiva grãos em 750 hectares de área nos municípios de Mineiros e Caiapônia, em Goiás. Todo o manejo das lavouras é feito com bioinsumos. "Planejamento é essencial", diz. "Hoje, não nos preocupamos com picos de produtividade, já que asseguramos resistência e rentabilidade ao grão."
A soja ocupa metada da área cultivada por Vian. A produtividade média é de 60 sacas por hectare, para um custo de 30 sacas. Ele afirma que consegue manter esse índice de rendimento de campo independentemente de eventuais problemas climáticos.
"Em um ano mais complicado, como esse que passou com o El Niño, a gente segura a média de produtividade apenas com biológicos. Só uso químico em situação pontual", conta o agricultor, ressaltando que, quando começou a manejar a lavoura assim, não havia produtos comerciais no mercado. Hoje, são mais de 600 biológicos com registro no Ministério da Agricultura.
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Tecnologias e práticas de manejo mais eficientes e sustentáveis podem tornar a atividade agropecuária mais resiliente aos efeitos nocivos das mudanças do clima, cada vez mais evidentes a cada safra. Os eventos climáticos estão mais frequentes e extremos, com impactos severos a atividade rural em diversas regiões.
Em meio à ocorrência de fenômenos climáticos como El Niño e La Niña, as diferentes regiões produtoras do Brasil viveram períodos de excesso ou falta de chuva, além de temperaturas elevadas e ondas de calor. O meteorologista Willians Bini, CCO da empresa de monitoramento climático FieldPRO lembra que o clima é uma das variáveis que produtor não consegue controlar. Mas traz impactos.
Em sua visão, o produtor deve estar preparado para reduzir riscos. A saída é ter informações confiáveis sobre o clima e a previsão do tempo que lhe permitam realizar as operações de campo - como irrigar ou aplicar pesticidas - nos períodos de melhor condição.
"Hoje, o produtor tem instrumentos que lhe permitem fazer uma gestão hídrica e sustentável a curto e longo prazo”, diz.
Além do ambiental
A sustentabilidade, seja na agropecuária ou em outras atividades, vai além do aspecto ambiental. A chamada agenda ESG (Ambiental, Social e de Governança) coloca a necessidade de se observar também aspectos sociais - como o cumprimento de legislação trabalhista, por exemplo - e econômicos - ligados à situação financeira do negócio.
"A sustentabilidade passa por aspectos ambientais e sociais, além dos econômicos, mas a gente precisa lembrar que todo o trabalho é feito por pessoas e para pessoas", ressalta, em entrevista à Globo Rural, Luiza Bruscato, primeira mulher a presidir a Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS), entidade de atuação global que certifica a produção da oleaginosa.
Ela afirma que ser sustentável gera renda. Permite acessar mercados mais exigentes, que pagam valores diferenciados por produtos certificados em relação aos convencionais.
José Ricardo Pezzopane, pesquisador de sistemas de produção pecuária da Embrapa Pecuária Sudeste pensa de forma semelhante e menciona a integração lavoura pecuária floresta como exemplo de prática sustentável que gera ganhos ambientais e também econômicos.
Entre as vantagens do sistema, ele destaca redução das emissões de gases de efeito estufa (aspecto ambiental), diversificação das fontes de renda na propriedade (aspecto econômico) e maior eficiência no tempo dos funcionários na fazenda (aspecto social).
“Este sistema pode ser adotado de forma consorciada, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades”, avalia. “Quando percebem que as técnicas são vantajosos, os produtores as valorizam e difundem”, diz.
Segundo o pesquisador, dos 160 milhões de hectares de pastagens que existem no Brasil, em cerca de 20% já são utilizados consórcios ou integrações na atividade pecuária. Ele aponta ainda a possibilidade do produtor rural ter acesso a crédito mais barato.
No caso do Plano Safra, a agricultura comprovadamente sustentável garante uma redução de 0,5% na taxa de juros para o custeio, o que pode ser atrativo para o produtor. “O agricultor não é atraído pela preocupação ambiental, mas, sim, por vantagens financeiras ou mesmo por questões de sobrevivência na atividade”, afirma.
Paula Packer, chefe geral da Embrapa Meio Ambiente, destaca, entre ações governamentais, o Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), criado em 2010 e renomeado em 2023 como Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (ABC+). A intenção é incentivar uma agropecuária que controla emissões de gases de efeito estufa e conserva recursos naturais.
Apesar da existência de incentivos, a pesquisadora pontua, no entanto, que o produtor rural ainda precisa ser atraído e convencido a adotar uma agricultura mais sustentável. “Se o produtor estiver no vermelho ele nunca vai pensar no verde”, diz.
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